Page 28 - Da Terra
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No dia seguinte perguntavam-lhe e ele dizia:
- Não posso abusar na pinga e como já era tarde, acabei por sair e ir para casa.
A cena foi-se repe ndo sempre que o capataz fazia tal oferta. Só que um dia, ou o Zé do Burro
bebeu mais copos do que o costume, ou ficou demasiado tempo na adega, o que é certo é
que saiu de lá e logo caiu de bêbado meia dúzia de metros à frente. Quando os homens
saíram da adega deram com o Zé do Burro naquele estado e veram de o levar até casa.
No dia seguinte, tendo o Zé do Burro sido apanhado, lá confessou o seu estratagema. Ele
bebia mais do que todos e logo a seguir saía apressado para que es vesse em casa seguro
quando a pinga fizesse efeito.
Mas isto foi no tempo em que não havia eletricidade. Quando finalmente chegou a
eletricidade ao local, Zé do Burro teve outra situação caricata. Saiu ele da adega bem bêbado
e foi para casa. Mas, no caminho, Zé do Burro sen u uma sombra atrás de si… começou a
andar mais depressa. E quando passou o candeeiro, a sombra apareceu-lhe lá a frente.
E ele:
OH, ALMA PENADA. O QUÊ?
JÁ ESTÁS AQUI À MINHA ESPERA?
Então ele voltou para trás. Mas logo reparou que a sombra lá
estava atrás outra vez à espera dele. E assim andou para lá e
para cá um bom bocado até os colegas o irem buscar.
‘’É assim…bebem, bebem até perder o no e depois
dizem que as almas penadas lhes aparecem…’’
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